Importantes Encontros Internacionais de Placemaking no 2º semestre de 2017

Um movimento pulsante como o Placemaking não poderia estar fazendo nada diferente do que
estar em constante ebulição de ideias planeta à fora.

São inúmeros agentes espalhando as boas práticas do Placemaking pelo mundo todo, seja através de projetos autorais, palestras, cursos, publicações e participação em debates sobre os rumos das nossas cidades.

Dentro deste panorama imensurável de atividades, os grandes encontros oficiais desempenham um papel importantíssimo no fortalecimento de redes, em escala internacional – num exercício de reconhecimento da própria envergadura – bem como em diferentes escalas locais, que aproveitam os momentos para estreitarem seus laços, retornando para suas regiões cheios de contatos e muita inspiração para agir nos seus territórios.

O 2º semestre deste ano inicia com o encontro internacional principal:
a Placemaking Week Amsterdam, que acontece na capital holandesa entre os dias 11 e 14.

*confirme presença no evento oficial no facebook ;)

Em seguida, já no início do mês de Novembro é a vez do continente sul americano realizar o seu encontro:
O Placemaking Latinoamerica será do dia 06 ao dia 09, na cidade de Valparaíso, no Chile.

Este encontro acontecerá dentro do contexto da XX Bienal de Arquitectura, que tem o tema muito pertinente “Diálogos Impostergables”. Será muito intenso!

Você irá em algum destes encontros? Sabe de alguma pessoa que está se planejando?
Algum grupo ou coletivo? Estamos querendo juntar informalmente a delegação de brasileiros entusiastas do Placemaking!

Escreva para nós por esta página ou nos nossos canais nas redes sociais.

MAPEAMENTO COLETIVO de PROJETOS e INICIATIVAS

Chegou a data da aguardada PLACEMAKING WEEK em Vancouver, Canadá!
Para celebrar este que pretende ser o maior encontro de Placemaking de todos os tempos, a gente vai lançar um campanha de MAPEAMENTO COLETIVO de todos os PROJETOS e INICIATIVAS que dialogam com a abordagem do Placemaking, aqui no Brasil

Depois do processo de mapeamento dos entusiastas do Placemaking espalhados pelo território brasileiro, agora queremos descobrir tudo de mais interessante já criado para melhorar a qualidade dos espaços públicos das cidades brasileiras.

O processo para o mapeamento é muito simples, basta enviar um email para mapeamento.placemakingbr@gmail.com com as seguintes informações:

– nome do projeto/iniciativa
– endereço do projeto/iniciativa
– data do projeto/iniciativa (da concepção e, se for o caso, da implementação)
– breve descrição (máx. uma página)
– plantas, esquemas e/ou fotografias

Assim como o próprio Placemaking, nossos mapeamentos são trabalhos que nunca terminam, são processos contínuos, portanto nunca deixe de contribuir com informações!

Participem de todas as nossas redes, entrem em contato e ajudem a difundir novas práticas para transformar os espaços públicos das nossas cidades em lugares especiais para desfrutarmos da vida coletiva.

Placemakers, vamos juntos criar este movimento.

Se 2014 foi o ano de criar o CBLP, 2015 é o ano de estruturar o movimento e ganhar o Brasil!

A ideia é que todos os membros participem do Conselho como achar mais interessante. Você pode compartilhar as teorias e práticas do Placemaking; produzir conteúdo para o blog e para as redes sociais do CBLP; promover cursos, eventos e projetos que tenham o conceito como base; entre outros.

No momento, um grupo de 4 pessoas está envolvido com as publicações e planejamento de eventos. Mas se queremos que o movimento ganhe força e seja realmente representativo, este grupo precisa ser muito maior.

Imagem: Project for Public Spaces.

Imagem: Project for Public Spaces.

Como você quer participar do CBLP?

Criamos um breve formulário, onde todos os membros podem colocar suas informações e escolher uma forma de envolvimento com o Conselho. Assim, vamos conseguir nos organizar e definir juntos os próximos passos.

Clique aqui e responda o formulário. 

Conheça um pouco das modalidades de participação e escolha uma delas no formulário:

CURIOSO – antes de mais nada, é um entusiasta do Placemaking. Não quer ter obrigações formais com o Conselho, mas firma o compromisso de ajudar a espalhar as teorias e práticas de Placemaking pelo mundo.

CONSELHEIRO – além de atuar como um difusor do Placemaking, o Conselheiro quer colaborar com conteúdo para a comunidade Brasileira de Placemakers. O conteúdo será publicado no blog e redes sociais do Conselho.

LÍDER LOCAL – quer atuar de maneira contínua, empoderando as comunidades locais com ferramentas para transformar “espaços” em “lugares”, promovendo eventos e treinamentos relacionados a Placemaking, além de incluir o Placemaking na agenda política e técnica dos governos municipais.

LÍDER NACIONAL – é um incansável, quer promover a discussão a respeito de Placemaking no contexto brasileiro, envolvendo todos os setores da sociedade, divulgando as iniciativas de humanização dos espaços públicos, promovendo a troca de ideias e experiências. Quer empoderar as comunidades urbanas com eventos e treinamentos, representando o Conselho. Terá a missão de colocar o Placemaking na agenda política e técnica dos governos municipais, estaduais e federal, incluindo o tema na agenda dos representantes brasileiros em conferências internacionais, além de participar das reuniões estratégicas dos conselhos Nacional e Internacional.

Vamos criar este movimento juntos?

Obrigado!

 

Placemaking, urbanismo e o futuro dos espaços públicos

Possivelmente a tendência mais forte do urbanismo contemporâneo é a busca e o resgate da escala humana perdida nos tempos do urbanismo moderno. Além de proporcionar cidades ‘caminháveis’ e espaços nos quais as pessoas gostam de estar, nos últimos anos o foco de ações urbanas relacionadas à adaptação às mudanças climáticas, resiliência, sustentabilidade, segurança, entre outros aspectos, tem se voltado para as necessidades da comunidade. Em outras palavras, soluções urbanas devem seguir uma abordagem de ‘baixo para cima’ (bottom up) ao invés de uma abordagem ‘de cima para baixo’ (top down)[i][ii]. Para que se obtenha sucesso nessas ações, nada melhor do que construir ‘lugares’ (placemaking) e evitar não-lugares (placelessness), já que é da natureza humana cuidar dos espaços quando de alguma maneira nos preocupamos com eles[iii].

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Re:START Container Mall (Christchurch, Nova Zelândia)

 

No clássico Place and Placelessness, Edward Relph[iv] identifica três componentes de lugar: o espaço físico, as atividades que nele acontecem e o significado que ele adquire. Relph enfatiza que desses três componentes provavelmente o mais difícil de ser compreendido é o significado e, ainda assim, ele é de vital importância. Significados levam tempo para se desenvolver e espaços precisam desse tempo para que se tornem lugares, como explica Tim Cresswell[v]:

“Espaço tem sido visto como uma distinção de lugar, como uma área sem significado (…). Quando seres humanos atribuem significado ao espaço, e de alguma maneira tornam-se conectados a ele (a atribuição de um nome é um exemplo), este espaço torna-se ‘lugar’. Apesar desse dualismo dos conceitos de espaço e lugar estar presente na geografia desde a década de 70, ele tem sido confundido com a ideia de espaço social – ou o espaço produzido pela interação social – o qual em muitos aspectos tem o mesmo papel de ‘lugar’.”

A diferença fundamental entre lugar e espaço social é que, desde que haja significado, o lugar existe sempre, com ou sem atividade social. Por outro lado, o espaço social só existe quando há interação social. Lugar é normalmente fruto de intervenções significativas na escala de desenho e até planejamento urbanos. Lugares precisam de conexões urbanas fortes e planejadas, precisam se tornar parte de cotidianos urbanos, precisam ter qualidades que as pessoas apreciem e então desenvolvam uma ligação especial com essas áreas, praças, cantos, sejam eles do tamanho que forem.

E é justamente nesse ponto em que placemaking torna-se ao mesmo tempo uma solução e um risco. Ativar espaços é muito importante, pois é fundamental que haja vida e vitalidade em espaços públicos. Mas da mesma maneira é importante que se perceba que, na grande maioria dos casos, a ativação de um espaço é necessária justamente porque o projeto urbano falhou. A ativação de espaços por evento é criação de espaço social, e muitas vezes quando o evento acaba, o espaço morre com ele. A criação de lugar, por outro lado, é mais profunda e permanente.

Re:START Container Mall (Christchurch, Nova Zelândia)

Re:START Container Mall (Christchurch, Nova Zelândia)

Para que se construa um lugar para a comunidade, ou um senso de lugarsense of place[vi] – é necessário que haja certa permanência, que se dê tempo à comunidade para que os significados desse lugar sejam desenvolvidos e apreendidos. Uma alternativa possível aos espaços efêmeros é o planejamento de atividades sociais por um período suficientemente longo, um espaço de tempo que sirva de âncora para que comunidade e autoridades locais percebam o valor da área, invistam nela e a tornem permanentemente viva. Senso de lugar[vii] refere-se ao que o espaço tem de único, que não é replicável, e cabe aos urbanistas entender quem são os usuários da cidade, como eles vivem, o que eles gostam de fazer, o que diferencia uma comunidade da outra, e traduzir esses aspectos em projetos urbanos eficazes e permanentes. Essas dimensões têm que ser incorporadas em políticas públicas e levadas em consideração desde os primeiros passos do planejamento e desenho urbanos (place-led development).

Por fim, placemaking deve ser pensado e abordado ao mesmo tempo como uma ideia abrangente e uma ferramenta prática para melhorar comunidades, cidades e regiões. Assim, ativação temporária de espaços pode e deve servir de laboratório e experimentação. Mas para que se os lugares vivam a longo prazo, o desenho e planejamento urbanos são fundamentais. Tentar ativar permanentemente uma área desconectada da malha urbana é infinitamente mais complicado do que um espaço que faz parte do dia a dia, do caminho para o trabalho, para o supermercado, a escola, ou a universidade. Por outro lado, se estivermos entendendo corretamente a mensagem e tirando proveito do laboratório de hoje, a ativação de espaços será cada vez menos necessária, pois teremos cada vez mais projetos urbanos bem sucedidos. Projetos efêmeros e de pequena escala são poderosos para que se teste soluções urbanas, mas eles não são a solução, ou um fim em si. Um impacto mais profundo em relação ao ‘conforto urbano’[viii], tornando os lugares permanentes, requer tanto desenho (em termos de qualidade do lugar) e planejamento urbano (usos e conexões, por exemplo). Fortes conexões e relações com o entorno onde estão inseridos, fachadas ativadas através de usos comerciais no primeiro piso e interações interior-exterior, acessos e trânsito, sol e controle de ventos, são alguns dos aspectos fundamentais para a consolidação de lugares. Placemakers, urbanistas e governantes precisam trabalhar juntos, testar e entender soluções, para então traduzí-las em projetos permanentes.

[i] Smit, B., Burton, I., Klein, R. T., & Wandel, J. (2000). An Anatomy of Adaptation to Climate Change and Variability. Climatic change, 45(1), 223-251. doi: 10.1023/A:1005661622966

[ii] Vallance, S., & Perkins, H. (2010). Is another city possible? Towards an urbanised sustainability. City, 14(4), 448-456. doi: 10.1080/13604813.2010.496217

[iii] Meyer, E. K. (2008). Sustaining beauty. The performance of appearance. Journal of Landscape Architecture, 3(1), 6-23. doi: 10.1080/18626033.2008.9723392

[iv] Relph, E (1970). Place and Placelessness. London, UK: Pion Ltd.

[v] Cresswell, T. (2004). Place: A Short Introduction. Oxford, UK: Wiley.

[vi] Tuan, Y.-F. (1977). Space and Place: The perspective of experience. Minneapolis, MN, USA: University of Minnesota Press.

[vii] idem

[viii] Conforto urbano combina aspectos da sociologia urbana e do conforto ambiental em espaços públicos. Essa abordagem se dá através das possibilidades de adaptação humana aos diversos microclimas urbanos como um produto cultural mais do que puramente uma fisiológico. Conforto urbano considera que, quando em espaços urbanos, seres humanos se adaptam ao microclima desde que haja razão para tal, e que essa razão varia de acordo com a cultura e a experiência do usuário. A teoria de conforto urbano foi o tema do doutorado da autora deste artigo na Lincoln University (Christchurch, Nova Zelândia)

 

Texto de: Silvia Tavares

Silvia é pesquisadora, brasileira e mora na Nova Zelândia. Ela entregou a tese de doutorado na Lincoln University em julho de 2014 e em seguida passou seis meses na Alemanha trabalhando como pesquisadora visitante no ILS (Research Institute for Regional and Urban Development). Silvia desenvolve pesquisa focada em conforto urbano, projeto e microclima urbanos, bem-estar, saúde pública e mudanças climáticas. Ela pode ser encontrada através do site http://silviatavares.com, e no twitter como @silgtavares.

O Futuro das Cidades

Um das referências pesquisadas durante nossa estadia na Project for Public Spaces (PPS) foi o documento “Placemaking and The Future of Cities” (Placemaking e o Futuro das Cidades). O documento divulga os 10 melhores casos de projetos em espaços públicos selecionados pela PPS em parceria com a UN-Habitat, que se comprometeram em unir forças e lutar por um desenvolvimento urbano sustentável.

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Esse documento tem o objetivo de servir como modelo para outros projetos em espaços públicos e tem o intuito de partilhar ferramentas, exemplos e processos para servir de inspiração para outras cidades. O conteúdo da publicação deve evoluir e ser expandido ao longo do tempo, incorporando os resultados de iniciativas bem sucedidas de placemaking que forem surgindo pelo mundo.


Seguem 3 casos inspiradores divulgados em “Placemaking & The Future of Cities”:

 

TOP 1. Medelín, Colombia: Conectando a cidade

A cidade de Medellín, na Colombia, construiu um sistema de transporte público que une os bairros “formais” e “informais” (as nossas favelas), melhorando a qualidade de vida nas ruas e contribuindo para a inclusão social. O Medellín Metrocable, um bonde aéreo, conecta os bairros periféricos da cidade, que antigamente eram consideradas áreas com alto índice de criminalidade. Moradores da periferia, que eram tradicionalmente marginalizados, agora têm acesso rápido ao principal sistema de metrô da cidade. Uma conexão que costumava representar uma caminhada difícil, tendo que subir e descer centenas de degraus ou mesmo um “lotação” bem demorada, virou um paraíso para os moradores, rápido, acessível e inclusivo.

Medellín Metrocable Linea J – Foto Steven Dale

Medellín Metrocable Linea J – Foto Steven Dale

Com a construção do Metrocable, a cidade teve a oportunidade de investir na melhoria das periferias, antes negligenciadas. Praças nas entradas do bonde se tornaram centros culturais vivos e divertidos do bairro, com venda de alimentos, cadeiras e paisagismo. Parques, quadras esportivas e livrarias foram construídas nas proximidades. Novas escolas foram construídas e as mais antigas foram melhoradas. A implementação de passarelas de pedestres ligando as partes da cidade que costumavam ser controladas por gangues contribuiu para que as taxas de homicídio desaparecessem (Medellín era considera uma das cidades mais perigosas do mundo). Não só isso, as pessoas de outros bairros da cidade agora se sentem seguras para subir o morro e conhecer novos bairros.

 

TOP 2. México: Espaços Inclusivos

No México, o programa SEDESOL, do Ministério do Desenvolvimento Social, “ressucitou” 42.000 espaços públicos em todo o país nos últimos cinco anos.

O “resgate” dos espaços públicos é um programa que promove a realização de ações sociais e a execução de obras físicas para criar pontos de encontro na comunidade, interação social e entretenimento cotidiano em áreas urbanas marginalizadas e abandonadas.

México - Zocalo

México – Zocalo

O projeto tem como objetivo ajudar a melhorar a qualidade de vida e segurança através da revitalização dos espaços públicos. Além disso, a iniciativa quer conectar o desenvolvimento urbano com o desenvolvimento social; promover a organização e participação das comunidades; aumentar a segurança das comunidades e prevenir ações de vandalismo, ajudando a reforçar o sentimento de pertencimento comunitário e a convivência entre todos.

 

TOP 3. Gyumri, Armenia: Estratégia Simples, Rápida e Barata

Em 1988, Gyumri foi atingida brutalmente por um terremoto que deixou 25.000 mortos e mais de 100.000 pessoas sem teto. Em 2001, Aram Khachadurian, ex-Chefe de Operações da PPS, ingressou no Instituto Urbano para ajudar a construir milhares de unidades habitacionais para as famílias deslocadas, que ainda viviam em abrigos temporários em espaços públicos por toda a cidade. Com o sucesso do programa de realojamento, a praça central da cidade se tornou, novamente, do público, abrindo o caminho para planejar sua revitalização.

Foto: Project for Public Spaces

Foto: Project for Public Spaces

Em julho de 2003, Gyumri realizou a primeira tentativa desde o terremoto de reativar a vida pública que havia neste centro cultural. Parceiros locais do projeto, incluindo o Instituto Urbano e um comitê local de arquitetos, planejadores, ONGs e autoridades da cidade, ajudaram no processo. Apesar do receio de que todo esse esforço poderia falhar, pois em 6.000 anos de história da Armenia essa participação dos cidadãos tem sido praticamente desconhecida, mais de 70 pessoas participaram de um workshop de um dia inteiro de placemaking. O entusiasmo imediatamente provocou uma colaboração intersetorial na cidade em uma escala sem precedentes. O resultado foi o “New Gyumri Festival” e a “Placemaking EXPO”, que ocorreu apenas dois meses depois. O povo de Gyrumi viu sua praça cheia de pessoas (cerca de 35.000) pela primeira vez na vida!

Entre a longa lista de eventos e melhorias, podemos citar:

  • Um mercado de flores, que desde então se tornou um evento regular bi-semanal
  • Uma pista de patinação de asfalto
  • Um tabuleiro de xadrez gigante feito de madeira pelo clube de xadrez local
  • Sete cafés
  • Iluminação noturna
  • Instalação de novo mobiliário urbano
  • Uma feira de arte
  • Performances, danças, competição de luta livre, ginástica e programas infantis
  • Jardins de flores plantadas pela igreja
  • Novos banners e sinalização de rua
  • Divulgações diárias pelos noticiários televisivos
Gyumri Arts & Craft Festival (Fonte)

Gyumri Arts & Craft Festival (Fonte)

Este evento foi um marco seguido por outros eventos na praça e faz parte de um ressurgimento de uma vida em espaços públicos. Hoje em dia, Gyumri continua com seu processo de revitalização, agora com muitas pessoas bem conscientes do poder de intervenções Rápidas, Simples e Baratas.

 

Texto de: Paola Caiuby.

Este texto foi produzido com base no trabalho realizado com a Project for Public Spaces em fevereiro de 2015, apoiado pelo Edital CONEXÃO CULTURA BRASIL Intercâmbios, da SECRETARIA DE ECONOMIA CRIATIVA (SEC).

minc logo 2015

 

11 Princípios para criar espaços públicos.

No post “O que faz um espaço público ser bem sucedido” vimos algumas características dos espaços públicos que mais atraem as pessoas e seus benefícios para todos que o frequentam. Mas agora a pergunta é outra: como transformar espaços públicos sem vida em lugares vibrantes?

A Project for Public Spaces identificou 11 princípios fundamentais para a transformação de qualquer espaço, seja ele uma praça, um parque, uma rua, uma calçada ou qualquer outro local de uso público. São eles:

 

1. O ESPECIALISTA É A COMUNIDADE

O ponto de partida para desenvolver um espaço público é identificar os talentos e ativos presentes na comunidade. Em qualquer comunidade há pessoas que podem fornecer uma perspectiva histórica do local, dar insights valiosos sobre os usos do espaço e até levantar os principais problemas ou a importância do local para quem é da região.

Resgatar essas informações no começo do processo ajuda a criar um senso de propriedade comunitária, que é positivo tanto para quem está desenvolvendo o projeto quanto para a comunidade em si.

  1. Identifique os talentos e as pessoas da comunidade que se interessam pelo espaço.
  2. Pergunte a eles qual é a sua visão sobre o espaço.

Quadro + painel com adesivos + parede com pergunta: formas práticas para entender necessidades e desejos da comunidade.

Imagem: Bela Rua

Imagem: Bela Rua

Veja o site da People Make Parks (em inglês) para mais ferramentas que você pode utilizar.

 

2. CRIE UM LUGAR, NÃO UM DESENHO URBANO

Se o seu objetivo é criar um lugar de encontros, pensar apenas no design não será suficiente. Para fazer com que um espaço pouco utilizado se torne um lugar vital de uma comunidade, os elementos físicos implementados devem se preocupar em fazer com que as pessoas se sintam bem-vindas e confortáveis no local. O objetivo é criar um lugar que tenha um forte senso de comunidade, um visual confortável e também que garanta atividades durante todos os dias da semana, em todos os horários – como fazer compras, comer, tomar um café, ler um livro, encontrar amigos, assistir a um show, etc.

  1. Implemente mudanças físicas que deixem o espaço mais convidativo e acessível, seja adicionando bancos, mesas, plantas e cor, como fazendo melhorias que facilitem e incentivem a circulação de pedestres.
  2. Incentive que os prédios ao redor do espaço tenham fachadas mais ativas e interessantes, colocando letreiros e detalhes que possam ser vistos por pedestres, janelas e vitrines que possibilitem ver o que acontece do lado de dentro, e até colocando mesas na calçada se for permitido – no caso de cafés e restaurantes.
  3. Liste o que pode ser feito no espaço por dia da semana e horário. Se houver horários com poucos usos, pense em formas de torná-los mais atrativos (shows, aulas de yoga, feiras?).

Mesas e cadeiras + plantas + fachadas ativas + ciclofaixa: ações realizadas por The Better Block em Dallas, EUA.

Imagem: The Better Block

Imagem: The Better Block

Assista aqui à palestra (em inglês) do criador do The Better Block sobre o projeto.  

Faça você mesmo: aprenda a utilizar materiais recicláveis para criar brinquedos, jardins, entre outros equipamentos com a Basurama.

 

3. ENCONTRE PARCEIROS

Ter parceiros é fundamental para garantir o futuro sucesso das melhorias a serem realizadas em um espaço público. Você pode ir atrás de parceiros bem no começo do projeto, para que eles também contribuam com ideias e cenários que eles mesmos poderão ajudar a implementar no futuro. Eles são importantes para dar suporte e tirar o projeto do papel. Os parceiros podem ser instituições locais, museus, escolas, entre outros.

  1. Identifique empresas, instituições e organizações presentes no bairro onde o espaço está localizado.
  2. Entre em contato com eles, explique sua intenção de realizar melhorias no espaço e faça encontros para estimular ideias e ações.

 

4. VOCÊ PODE VER MUITO AO OBSERVAR O ESPAÇO

Nós podemos aprender muito com os sucessos e falhas de outros espaços. Ao observar como as pessoas estão usando (ou não usando) um espaço público, você poderá descobrir o que elas gostam e não gostam – o que funciona e o que não funciona. Através das observações, ficará claro que tipo de atividades estão faltando e o que poderia ser incorporado. Depois de realizar as mudanças, continue observando o espaço para entender como melhorá-lo e mantê-lo ao longo do tempo.

  1. Observe como as pessoas usam o espaço em diversos horários e dias (se elas sentam, se ficam em pé falando ao telefone, se comem ou conversam). Os usos podem ser diferentes entre um dia e outro, pela manhã e à noite…
  2. Repare se as pessoas que permanecem no espaço estão sozinhas ou em grupo, se são mais homens do que mulheres, qual a sua idade. Quanto mais diversidade de pessoas um espaço tiver, melhor.
  • À esquerda, William H. Whyte filma um espaço público para analisar seu uso.
  • No centro, o livro The Social Life of Small Urban Spaces, onde Whyte explica suas técnicas de observação e pesquisa.
  • À direita, imagem da Pershing Square, em Los Angeles, durante trabalho de observação com a Project for Public Spaces. Notamos que as pessoas buscam pela sombra em espaços estreitos, revelando a necessidade de a praça oferecer maior proteção ao sol.
Imagem Pershing Square: Jeniffer Heemann

Imagem Pershing Square: Jeniffer Heemann

 

5. TENHA UM VISÃO PARA O ESPAÇO

A visão deve vir de cada comunidade e ela contempla três pontos essenciais: 1) saber quais atividades podem ser oferecidas no espaço, 2) definir as intervenções que vão tornar o espaço mais confortável e atrativo, 3) garantir que tudo seja feito para que o espaço seja um lugar importante para as pessoas, um lugar onde elas queiram estar. A visão deve se preocupar em fazer com que as pessoas que vivem e trabalham no bairro sintam orgulho daquele espaço e se identifiquem com ele.

  1. Envolva as pessoas da comunidade na criação da visão para o espaço, através de brainstorms, oficinas e encontros. A visão deve servir para criar ou desenvolver a identidade do local.
  2. Depois de conversar com as pessoas do bairro e com os parceiros, você vai entender a história da região, seus valores e sua cultura. A visão virá dessas informações.

Oficina de pintura da Red OCARA, que busca entender o que as crianças desejam em um espaço público.

Imagem: Red OCARA

Imagem: Red OCARA

 

6. COMECE COM O BÁSICO: SIMPLES, RÁPIDO E BARATO

A complexidade dos espaços públicos é tão grande que é praticamente impossível fazer tudo certo de uma só vez. Os melhores espaços experimentam possibilidades fazendo melhorias de curto prazo, que são testadas e refinadas durante muitos anos. Instalações como bancos, café na rua, arte, faixas de pedestres e hortas comunitárias são exemplos de melhorias que podem ser realizadas em um curto espaço de tempo.

  1. Comece o projeto fazendo melhorias que possam ser implementadas em pouco tempo e com pouco dinheiro.
  2. Observe como as pessoas reagem a essas mudanças. Continue o que dá certo e modifique o que não dá.

Times Square, NYC: pintura e mobiliário móvel para fechar uma parte da avenida, a transformando em um espaço de lazer. A medida reduziu o número de acidentes de trânsito e aumentou o número de frequentadores.

Imagem: NYC Department of Transportation

Imagem: NYC Department of Transportation

Saiba mais sobre o modelo Simples, Rápido e Barato.

 

7. TRIANGULE

“Triangulação é o processo pelo qual alguns estímulos externos incentivam interações entre as pessoas e fazem desconhecidos conversarem como se eles se conhecessem”. – William H. Whyte

Em um espaço público, a escolha e a disposição de diferentes elementos pode colocar o processo de triangulação em ação – ou não. Por exemplo, se um banco, uma lata de lixo e um playground estão posicionados sem nenhuma conexão um com o outro, cada um pode receber um uso bem limitado. Mas quando eles são colocados juntos, com outros equipamentos como um carrinho de café, eles naturalmente vão fazer com que pessoas se aproximem e se relacionem.

  1. Posicione equipamentos de diferentes usos e públicos próximos uns aos outros.
  2. Observe a interação das pessoas e mude o posicionamento se necessário.

Jogos + shows + lojas + locais para sentar: diferentes atividades atraem diferentes públicos, e incentivam conversas e interações.

Esquerda: Melbourne, Australia. Fonte: theholidayplace Direita: Brooklyn, New York, EUA. Fonte: Streetfilms

Esquerda: Melbourne, Australia. Fonte: theholidayplace
Direita: Brooklyn, New York, EUA. Fonte: Streetfilms

 

8. ELES SEMPRE DIZEM “ISSO NÃO PODE SER FEITO”

É inevitável: no processo de criar bons espaços públicos, você vai encontrar obstáculos. Criar “lugares”, na grande maioria das vezes, não é uma meta nem do setor público, nem do privado. Um engenheiro de tráfego, por exemplo, pode dizer que é impossível fechar uma rua apenas para o trânsito de pedestres – porque o seu trabalho é facilitar o trânsito de carros e não criar lugares de convivência social. Fazer implementações de pequena escala com a comunidade pode demonstrar a importância desses “lugares” e ajudar a superar os obstáculos.

  1. Antes de implementar uma mudança de forma permanente, faça um teste com a ajuda da comunidade. Por exemplo: em vez de fechar toda a rua para carros, feche apenas uma quadra durante um dia da semana.
  2. Converse com as pessoas e faça pesquisas para saber sua opinião sobre a mudança feita. Observe o uso e a interação das pessoas – entenda o que funcionou e o que não funcionou durante o teste, e faça ajustes.
  3. Use as informações coletadas (opiniões, observações de usos) para defender uma implementação permanente.

 

9. A FORMA DEVE DAR SUPORTE À FUNÇÃO

As ideias da comunidade e de potenciais parceiros, a compreensão de como outros espaços funcionam, a experimentação, e a superação de obstáculos e opositores vão servir para construir o conceito do espaço. Embora o design seja importante, esses outros elementos vão lhe dizer qual é a “forma” que você precisa para realizar a visão de futuro do espaço.

  1. Defina primeiro a função do espaço: seus objetivos e as atividades que vão ajudar a alcançar esses objetivos.
  2. Com base na função, pense no design do espaço: ele deve servir para realizar os objetivos e atividades propostas.

 

10. DINHEIRO NÃO É O PROBLEMA

Esta frase pode ser aplicada para uma série de situações. Por exemplo, assim que você implementa a infra-estrutura básica do espaço, os elementos adicionados para fazer o espaço funcionar (como cafés, flores e bancos) não são caros. Além disso, se a comunidade e outros parceiros estão envolvidos na programação e em outras atividades, esse envolvimento também pode reduzir os custos do projeto. O mais importante é que, seguindo estes passos, as pessoas ficarão tão entusiasmadas com o projeto que o custo não será considerado significativo quando comparado com aos benefícios.

 

11. VOCÊ NUNCA TERMINOU

Por natureza, bons espaços públicos atendem necessidades, opiniões e mudanças da comunidade. O que um dia foi positivo para o espaço público pode acabar se desgastando, as necessidades da comunidade podem mudar e diversos eventos não previstos podem acontecer em um ambiente urbano. É importante estar aberto à mudança e que o espaço tenha uma gestão flexível, que entenda que a mudança é o que constrói ótimos espaços públicos e cidades.

 

 

Texto de: Jeniffer Heemann e Paola Caiuby.

Este texto foi produzido com base no trabalho realizado com a Project for Public Spaces em fevereiro de 2015, apoiado pelo Edital CONEXÃO CULTURA BRASIL Intercâmbios, da SECRETARIA DE ECONOMIA CRIATIVA (SEC).

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O que faz um espaço público ser bem sucedido?

Um dos  temas que analisamos e pesquisamos durante o nosso trabalho com a ONG Project for Public Spaces (PPS) foi: o que faz um espaço público ser bem sucedido e outro não? Depois de avaliar milhares de espaços públicos pelo mundo, a PPS descobriu que os espaços públicos bem sucedidos têm quatro qualidades fundamentais:

1. ACESSÍVEL – Pessoas de todas as idades e condições físicas (com dificuldade de locomoção ou que usam cadeiras de rodas, por exemplo) conseguem chegar ao espaço e se locomover nele;

2. ATIVO – Oferece diferentes atividades e formas de as pessoas usarem o espaço;

3. CONFORTÁVEL – O espaço tem lugares para sentar, uma vista agradável e outros atributos que o tornem mais convidativos;

4. SOCIÁVEL – Um lugar onde as pessoas encontram amigos ou até conhecem novos amigos.

Segue abaixo um diagrama que serve como ferramenta para avaliar se o espaço público é bom:

Produzido por PPS e traduzido por Conexão Cultural e Bela Rua.

Produzido por PPS e traduzido por Conexão Cultural e Bela Rua.

 

Imagine que o círculo central no diagrama é um espaço público específico que você conhece: a esquina da rua, um parque, uma praça, etc. Você pode avaliar esse espaço de acordo com os quatro critérios do anel roxo. No anel azul estão uma série de aspectos intuitivos ou qualitativos para se julgar um lugar; o anel amarelo mostra os aspectos quantitativos que podem ser medidos através de estatísticas ou pesquisas.

Ótimos espaços públicos são aqueles onde as celebrações são realizadas, as trocas sociais e econômicas ocorrem, é o ponto de encontro entre amigos e onde as culturas se misturam. Eles são as “varandas” das nossas instituições públicas. Quando os espaços funcionam bem, eles servem como um palco para nossa vida pública.

 

ACESSO E CONEXÕES

Você pode avaliar o acesso de um lugar por suas conexões com os seus arredores, tanto visual como física. Um espaço público bem sucedido é fácil de chegar e ir embora; é visível tanto de longe quanto de perto. As ruas do entorno do espaço público também são importantes. Por exemplo, uma rua com diversas lojas e cafés é mais interessante e geralmente mais segura para caminhar, porque há presença de outras pessoas, em comparação a uma rua com grandes paredes em branco e lotes vazios. Espaços acessíveis têm alta rotatividade de estacionamentos e, idealmente, contam forte presença de transporte público.

Perguntas a serem consideradas:

  1. Você pode ver o espaço de uma distância considerável? Você vê o acontece dentro do espaço mesmo estando longe dele?
  2. Há uma boa conexão entre o espaço e os edifícios ao redor, ou o espaço é cercado por paredes brancas? As pessoas dos edifícios ao redor usam o espaço?
  3. As pessoas podem caminhar facilmente até o local? Por exemplo: elas têm que se “jogar” entre os carros em movimento para chegar ao lugar?
  4. As calçadas levam para as áreas adjacentes?
  5. O espaço é acessível para pessoas com necessidades especiais?
  6. As ruas e os caminhos do espaço levam as pessoas onde eles realmente querem ir?
  7. As pessoas podem usar uma variedade de opções de transporte – trem, ônibus, carro, bicicleta, etc. – para chegar ao local?
  8. Os semáforos estão convenientemente localizados próximos a destinos como bibliotecas, correios, entrada do parque/praça, etc.?

Exemplo: Union Square, em Nova York. – Intersecções para pedestres nas esquinas da praça, bom acesso para os prédios ao redor, fácil de caminhar e visível a longa distância.

Fonte: NYCDOT

Fonte: NYCDOT

 

CONFORTO E IMAGEM

Um espaço confortável e bonito, que tenha um visual agradável, é a chave para o seu sucesso. Conforto inclui percepções sobre segurança e limpeza, bem como a disponibilidade de lugares para sentar. A importância de dar às pessoas a opção de sentar-se onde eles querem é geralmente subestimada. As mulheres em particular são boas juízes no quesito conforto e imagem, pois elas tendem a ser mais exigentes sobre os espaços públicos que utilizam.

Perguntas a serem consideradas:

  1. A primeira impressão do espaço é positiva?
  2. Há mais mulheres do que homens?
  3. Existem lugares suficientes para sentar? São lugares convenientemente localizados? As pessoas têm uma escolha de lugares para sentar, seja no sol ou na sombra?
  4. São espaços limpos e sem lixo? Quem é responsável pela manutenção? O que eles fazem? Quando?
  5. A área é segura? Existe seguranças no espaço? Se assim, o que eles fazem? Quando eles estão de plantão?
  6. As pessoas estão tirando fotos? Existem muitas oportunidades de fotos disponíveis?
  7. Os carros dominam mais que os pedestres, impedindo esses de chegar ao local?

Exemplo: Jardim de Luxemburgo, Paris. – Visualmente bonito e agradável, com gramados e cadeiras móveis, que as pessoas podem posicionar onde preferir.

Foto: Jeniffer Heemann

Foto: Jeniffer Heemann

 

USOS E ATIVIDADES

Atividades são pilares básicos de construção de um lugar. Ter algo para fazer dá às pessoas uma razão para vir a um lugar e voltar. Quando não há nada para fazer, o espaço ficará vazio e geralmente significa que algo está errado.

Como avaliar a programação do espaço:

  1. Quanto mais atividades acontecendo, mais as pessoas têm a oportunidade de participar – bom sinal.
  2. Há um bom equilíbrio entre o número de homens e mulheres?
  3. Pessoas de diferentes idades estão usando o espaço (aposentados e pessoas com crianças pequenas podem usar um espaço durante o dia quando os outros estão trabalhando).
  4. O espaço é usado durante todo o dia.
  5. Um espaço que é usado por pessoas sozinhas e em grupos é melhor do que aqueles que são usados apenas por pessoas sozinhas. Isso significa que há lugares para as pessoas sentarem com os amigos, mais socialização, é mais divertido.
  6. O sucesso de um espaço depende do quão bem ele é gerenciado.

Perguntas a serem consideradas:

  1. As pessoas estão usando o espaço ou está vazio?
  2. É usado por pessoas de diferentes idades?
  3. As pessoas estão em grupos?
  4. Quantos tipos diferentes de atividades estão ocorrendo – pessoas andando, comendo, jogando beisebol, xadrez, relaxando, lendo?
  5. Quais as partes do espaço estão sendo utilizadas e quais não são?
  6. Há opções de coisas para fazer?
  7. Existe uma presença de gestão, ou você identifica que qualquer pessoa é responsável pelo espaço?

Exemplo: Projeto Ping Point, São Paulo. – Mesas gratuitas de ping pong em espaços públicos.

Foto: Letícia Godoy

Foto: Letícia Godoy

 

SOCIABILIDADE

Esse é um quesito difícil de conseguir em um espaço público, mas quando atingido, torna-se uma característica inconfundível. Quando as pessoas encontram os amigos, conhecem e cumprimentam os seus vizinhos, e se sentem confortáveis interagindo com estranhos, elas tendem a sentir um forte senso de lugar/pertencimento com espaço e o seu entorno.

Perguntas a serem consideradas:

  1. Este é um espaço que você escolheria para encontrar seus amigos? Existem outras pessoas no espaço encontrando amigos?
  2. As pessoas estão em grupos? Eles estão falando um com o outro?
  3. As pessoas parecem se conhecer, por nome ou de vista?
  4. Será que as pessoas trazem seus amigos e parentes para ver o lugar ou mostrar alguma de suas características com orgulho?
  5. As pessoas estão sorrindo? Será que as pessoas fazem contato visual com o outro?
  6. Será que as pessoas usam o local regularmente e por escolha própria?
  7. Existe uma mistura de idades e grupos étnicos que geralmente refletem a comunidade em geral?
  8. As pessoas tendem a recolher o lixo quando o veem?

Exemplo: Parques de Paris. – Servem como pontos de encontro entre amigos.

Foto: Paola Caiuby

Foto: Paola Caiuby

 

Texto de: Jeniffer Heemann e Paola Caiuby.

Este trabalho com a PPS é apoiado pelo Edital CONEXÃO CULTURA BRASIL Intercâmbios, da SECRETARIA DE ECONOMIA CRIATIVA (SEC) e MINISTÉRIO DA CULTURA.

minc logo 2015

 

Cidades que conectam pessoas.

Fonte: Scenario Journal , Foto: Hanna/Olin.

Fonte: Scenario Journal , Foto: Hanna/Olin.

Qual é o segredo das cidades pelas quais adoramos caminhar, e dos espaços públicos que fazem com que pessoas de diferentes idades, gêneros, classes e gostos se encontrem, se vejam e convivam em harmonia?

Em busca pelas respostas, a Conexão Cultural e o Bela Rua foram a Nova York trocar experiências com a Project for Public Spaces (PPS). A resposta que encontramos foi “Placemaking”, termo explicado a seguir com base em artigos da própria PPS.

 

PLACEMAKING

A palavra Placemaking pode ser traduzida para o português como “fazer lugares”. Os “lugares” mencionados aqui são espaços públicos que estimulam interações entre as pessoas em si e entre as pessoas e a cidade, promovendo comunidades mais saudáveis e felizes.

Placemaking é, ao mesmo tempo, um conceito amplo e uma ferramenta prática para melhorar um bairro, uma cidade ou uma região.

 

E SE CONSTRUIRMOS NOSSAS COMUNIDADES EM VOLTA DE LUGARES?

PPS Providence Public Space

Projeto da Project for Public Spaces para a cidade de Providence. Imagem: PPS.

Placemaking é um movimento que repensa os espaços públicos como o coração de toda a comunidade, em toda a cidade. É uma abordagem transformadora que inspira pessoas a criar e desenvolver seus espaços públicos. Placemaking torna mais forte as conexões entre pessoas e os lugares que elas compartilham.

Placemaking é como nós moldamos coletivamente o ambiente público para maximizar valores comuns. Com suas raízes na participação comunitária, o Placemaking abrange o planejamento, o desenho, a gestão e a programação de espaços públicos. Mais do que apenas criar melhores desenhos urbanos para esses espaços, Placemaking facilita a criação de atividades e conexões (culturais, econômicas, sociais, ambientais) que definem um espaço e dão suporte para a sua evolução.

Projeto Quadra Amiga - Vila Mascote/SP. Imagem: Conexão Cultural.

Projeto Quadra Amiga – Vila Mascote/SP. Imagem: Conexão Cultural.

 

É PRECISO DE UM LUGAR PARA CRIAR UMA COMUNIDADE. E DE UMA COMUNIDADE PARA CRIAR UM LUGAR.

Imagem: Project for Public Spaces.

Imagem: Project for Public Spaces.

Um processo bem sucedido de Placemaking cria valor em cima dos ativos da comunidade, das suas inspirações e de seus potenciais, desenvolvendo bons espaços públicos que promovam saúde, felicidade e bem-estar para as pessoas.

O processo de Placemaking da Project for Public Spaces partiu do trabalho com William “Holly” Whyte nos anos 1970 e ainda consiste em olhar, ouvir e fazer perguntas para as pessoas que vivem, trabalham e frequentam um espaço em particular, com o objetivo de descobrir suas necessidades e aspirações. Esta informação é utilizada para criar um visão compartilhada do espaço e pode rapidamente evoluir para uma estratégia de implementação, começando em uma escala pequena – com melhorias fáceis de implementar -, que imediatamente podem trazer benefícios para o espaço e para as pessoas que o utilizam.

Desejo para a praça Oliveira Penteado/SP - projeto (Rua)³, do Bela Rua. Imagem: Bela Rua.

Desejo para a praça Oliveira Penteado/SP – projeto (Rua)³, do Bela Rua. Imagem: Bela Rua.

Para a PPS, Placemaking é tanto um processo quanto uma filosofia. Ele começa quando uma comunidade expressa seus desejos e necessidades sobre seus espaços públicos, mesmo quando ainda não há um plano de ação definido. A vontade de unir pessoas em torno de uma visão mais ampla para um espaço específico acontece há muito tempo, antes mesmo de a palavra “Placemaking” ter sido mencionada pela primeira vez. Mas, uma vez que o termo foi criado, ele possibilita que as pessoas compreendam o quanto sua visão coletiva pode ser inspiradora, e permite que elas vejam de uma nova forma o potencial de seus parques, centros, fontes, praças, bairros, ruas, mercados, campus e prédios públicos. Placemaking provoca uma reavaliação empolgante sobre as experiências do dia a dia.

 

PRINCÍPIOS CHAVE DO PLACEMAKING

A abordagem do Placemaking proporciona às comunidades o meio que elas precisam para se revitalizar. Para começar, a Project for Public Spaces desenhou os 11 Princípios do Placemaking, que foi desenvolvido a partir das suas experiências ao trabalhar em 43 países, 50 estados americanos e 3000 comunidades. Estes são guias que ajudam comunidades a transformar diversas opiniões em uma visão de espaço, para depois traduzir esta visão em um plano e programação de atividades, e finalmente ver o plano implementado.

A visão da comunidade é essencial para o processo de Placemaking, assim como a compreensão do espaço e das formas como ótimos lugares incentivam conexões sociais e iniciativas bem sucedidas. Usando os 11 Princípios e outras ferramentas que a PPS desenvolveu para transformar lugares (como O Poder do 10 e o diagrama do lugar, abaixo), a organização tem ajudado cidadãos a realizar grandes mudanças em suas comunidades.

Produzido por PPS e traduzido por Conexão Cultural e Bela Rua.

Produzido por PPS e traduzido por Conexão Cultural e Bela Rua.

Aprimorar espaços públicos e a vida das pessoas que o utilizam significa ter paciência para dar pequenos passos, para realmente escutar as pessoas e para ver o que funciona melhor, eventualmente transformando a visão de um grupo em um ótimo espaço público.

 

 

PLACEMAKING VIRA UM MOVIMENTO INTERNACIONAL

Cada vez mais comunidades se engajam através do Placemaking e profissionais utilizam o termo para definir seu trabalho. Por isso, é essencial que seu conceito seja preservado. Um ótimo espaço público não pode ser medido apenas por aspectos físicos, ele deve ser um lugar vívido, onde as funções vêm antes da forma. PPS encoraja todos os cidadãos e profissionais a focar nos lugares e nas pessoas que o frequentam.

Através do Placemaking Leadership Council (Conselho de Lideranças em Placemaking), a Project for Public Spaces está trabalhando na criação de uma rede com o objetivo de evoluir o conceito de Placemaking e construir um movimento. Em outubro de 2014, o movimento chegou ao Brasil com a criação do Conselho Brasileiro de Lideranças em Placemaking.

Fred Kent, presidente da Project for Public Spaces, no lançamento do Conselho Brasileiro de Lideranças em Placemaking, em São Paulo. Imagem: Alex Birmann.

Fred Kent, presidente da Project for Public Spaces, no lançamento do Conselho Brasileiro de Lideranças em Placemaking, em São Paulo. Imagem: Alex Birmann.

Em parceria com a UN Habitat e a Ax:son Johnson, PPS criou uma série de conferências chamada Future of Places para dar destaque internacional ao Placemaking, com o foco no desenvolvimento das cidades. A próxima acontecerá em Estocolmo, Suécia, de 29 de junho a 1º de julho de 2015. Mais informações em: http://futureofplaces.com/

 

Texto de: Jeniffer Heemann e Paola Caiuby.

Este trabalho com a PPS é apoiado pelo Edital CONEXÃO CULTURA BRASIL Intercâmbios, da SECRETARIA DE ECONOMIA CRIATIVA (SEC).

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“Simples, Rápido, Barato”

Conexão Cultural, organização que ocupa espaços públicos de forma criativa, e Jeniffer Heemann, co-fundadora do Bela Rua e secretária do Conselho Brasileiro de Lideranças em Placemaking, estão em Nova York trabalhando com a ONG Project for Public Spaces (PPS). O objetivo deste intercâmbio é entender como a PPS, uma espécie de hub do movimento global de Placemaking, fomenta a criação de espaços vitais para a sociedade, e também mostrar os projetos que são desenvolvidos no Brasil.

Uma estratégia que pesquisamos por aqui e queremos replicar para vocês é a “Lighter, Quicker, Cheaper” – em português: Simples, Rápido e Barato (SRB). Por meio de uma estrutura barata e de alto impacto para melhorar espaços públicos rapidamente, a SRB aproveita a criatividade da comunidade para gerar novos usos e valores de maneira eficaz em lugares que estão em transformação.

Curativos urbanos

Foto Projeto Curativos Urbanos – Chamando a atenção para a situação das calçadas em São Paulo.

Confira mais exemplos de SRB!

 

SRB – Estruturas e Arte na Rua

Estruturas flexíveis e de baixo custo, e intervenções artísticas e rotativas, podem promover rapidamente um sentido de conforto e vida ao local.

Exemplo 1: Construção de bancos e mesas no Largo da Batata em São Paulo.

a bata precisa de você

Fonte: A Batata Precisa de Você

 

Exemplo 2: Arte de rua temporária cria uma identidade no local e pode fazer com que os visitantes queiram retornar ao espaço.

galeria corujasegundaedicao

Foto: Galeria Coruja em São Paulo, Fonte: Café na Rua

 

Exemplo 3: O redesenho do Bryant Park, um dos projetos da PPS, resultou em um dos parques urbanos mais utilizados no mundo. O parque conta com mobiliário flexível, permitindo que o espaço evolua e atraia visitantes de novo e de novo e de novo…

Bryant Park

Fonte: Scenario Journal , Foto: Hanna/Olin.

 

SRB – Eventos e Intervenções

Eventos podem impulsionar o espaço, servir de vitrine para talentos locais e estimular a criação de novas parcerias.

Eles também são ótimos para testar as ideias que a comunidade deu para um espaço público, possibilitando que o projeto e a programação sejam adaptados com base nos resultados e observações, resultando em intervenções permanentes bem sucedidas.

Exemplo 1: Ruas e calçadas compõem cerca de 80% do espaço público de uma cidade.  O fechamento temporário de ruas ajuda as comunidades a visualizar novas possibilidades para esses espaços, muitas vezes negligenciados.

Vila Mascote Conexao Cultural

Foto: Projeto QuadrAmiga na Vila Mascote – Música, arte de rua ao vivo e pintura de faixa de pedestre com a comunidade.

 

Exemplo 2: O PARK(ing) Day Dallas promove a interação social, engajamento da população, o pensamento crítico e a criatividade. Anualmente, na terceira sexta-feira do mês de setembro, a cidade de Dallas se une a outras cidades ao redor do mundo para transformar temporariamente vagas de rua em parques.

parkingday

Foto e Fonte: Parking Day Dallas

 

SRB – Desenvolvimento Simples

Uma alternativa às grandes e crescentes construções é trazer novos usos para um lugar e criar estruturas temporárias. Elas podem transformar espaços pouco utilizados e ajudar na criação de identidade de um distrito ou bairro, atraindo parceiros de longo prazo para futuras melhorias com baixos custos.

Exemplo 1: Pier 1 Pop-Up Park no Brooklyn, que serviu como um “low-cost” temporário e multiuso até conseguir capital para criar um parque no local.

Pier 1 Pop-Up Park

Fonte: Scenario Journal, Foto:  dlandstudio

 

Exemplo 2: Ruela no centro do Los Angeles. Para evitar reformas caras e demoradas, os bares da rua acharam uma solução simples para deixar suas fachadas mais amigáveis: pintar janelas e sacadas.

Ruela em Los Angeles

 

Plano de Ação!

1 – DEFINA O ESPAÇO

2 – IDENTIFIQUE AS PARTES INTERESSADAS

3 – AVALIE O ESPAÇO

4 – IDENTIFIQUE PROBLEMAS/OPORTUNIDADES

5 – CRIE UMA VISÃO DO ESPAÇO

6 – FAÇA EXPERIMENTOS SRB

7 – FAÇA REAVALIAÇÕES E MELHORIAS DE CURTO/LONGO PRAZO

 

Texto de: Jeniffer Heemann e Paola Caiuby.

Este trabalho com a PPS é apoiado pelo Edital CONEXÃO CULTURA BRASIL Intercâmbios, da SECRETARIA DE ECONOMIA CRIATIVA (SEC).

minc logo 2015

Confira as fotos do primeiro encontro do conselho.

O primeiro encontro do Conselho Brasileiro de Lideranças em Placemaking aconteceu no dia 06 de outubro, às 17h, no Secovi – São Paulo/SP.

O encontro contou com a presença de Fred Kent, presidente do Project for Public Spaces de Nova York, assim como de profissionais da iniciativa privada, academia, governo, terceiro setor e sociedade civil.

Veja algumas fotos do encontro, por Alex Birmann.

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